quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Cortella, Lewis e a Moral


Sempre tive como referência nas teorias de Moral e Ética o filósofo Sérgio Cortella, mas a cada novo livro que leio de C. S. Lewis percebo que ele é uma autoridade em literatura, suas diversas áreas e assuntos! Suas incríveis metáforas, o trabalho minucioso com as figuras de linguagem, a escolha do gênero mais adequado para a demonstração, a clareza no seu texto me fazem crer que é o dito é verdade não somente pelo embasamento bíblico, mas por ter tido a oportunidade de ler e sentir seu expresso sentimento. Não precisa ser muito crítico, nem de muita sensibilidade para viver esse sentimento e então atestar serem realmente sábias e verdadeiras suas concepções. O que ele defende sobre Lei Moral:

Suponhamos que você ouça o grito de socorro de um homem em perigo. Provavelmente sentirá dois desejos: o de prestar socorro (que se deve ao instinto gregário) e o de fugir do perigo (que se deve ao instinto de auto-preservação). Mas você encontrará dentro de si, além desses dois impulsos, um terceiro elemento, que lhe mandará seguir o impulso da ajuda e suprimir o impulso da fuga. Esse elemento, que põe na balança os dois instintos e decide qual deles deve ser seguido, não pode ser nenhum dos dois. Você poderia pensar também que a partitura musical, que lhe manda, num determinado momento, tocar tal nota no piano e não outra, é equivalente a uma das notas no teclado. A Lei Moral nos informa da melodia a ser tocada; nossos instintos são meras teclas.

Há outra maneira de perceber que a Lei Moral não é simplesmente um de nossos instintos. Se existe um conflito entre dois instintos e, na mente dessa criatura, não há mais nada além desses instintos, é óbvio que o instinto mais forte tem de prevalecer. Porém, nos momentos em que enxergamos a Lei Moral com maior clareza  ela geralmente nos aconselha a escolher o impulso mais fraco. Provavelmente, seu desejo de ficar a salvo é maior do que o desejo de ajudar o homem que se afoga, mas a Lei Moral lhe manda ajudá-lo, apesar dos pesares. E, em geral, ela nos manda tomar o impulso correto e tentar torná-lo mais forte do que originalmente era - não é mesmo? Ou seja, sentimos que temos o dever de estimular nosso instinto gregário, por exemplo, despertando a imaginação e estimulando a piedade, entre outras coisas, para termos força para agir corretamente na hora certa. E evidente, porém, que, no momento em que decidimos tornar mais forte um instinto, nossa ação não é instintiva. Aquilo que lhe diz: "Seu instinto está adormecido, desperte-o!", não pode ser o próprio instinto. O que lhe manda tocar tal nota no piano não pode ser a própria nota...”

Em Cristianismo Puro e Simples.